sexta-feira, 8 de fevereiro de 2002

Onde nasce o mundo

Esse livro aqui vai ser todo dedicado a minha Rebentinha, desde o começo até o final, pois o título é diretamente inspirado nela. Esta idéia estava toda na minha cabeça, mas só conseguiu sair mesmo quando eu dormi na casa dela, semana passada, em uma hora eu consegui escrever o que vai a seguir


Onde nasce o Mundo

1 – A força, o poder.

Fosse a força que força a forca, o baile do vento que embala o pêndulo. O homem que paira, em jazigo perpétuo, na viga que segura a casa. A casa, porém, não veio a pique. Veio a se completar com o vai-e-vem do corpo sem vida.

2- O costume

Aquela manhã não acordara bem. O despertador rugira um embalo diferente do costumeiro tique-taque das horas de sono. Tendo de encontro o chão, junto o telefone a pouco instalado, o vidro que separa os ponteiros do baile do vento que passa pela breve abertura da janela, estilhaçou-se, dando fim a vida útil daquele tiquetaquear. Ao bater no chão, o telefone deu espera de sinal, e na agonia das novas forças do mundo, o fio rompe-se, quebrando o elo ao exterior, sem precisar abrir as portas. Pedro Ernesto percebe que deveria acordar mais cedo que o Sol. O chão movia-se infernalmente, para cima, para baixo, como se tivesse ganho vida. E tinha. As portas dos armários cuspiam roupas passadas. As gavetas exoneravam seus pertences. Havia raiva naquele vai-e-volta das coisas. As cômodas batiam nas paredes, para tentar voltar ao passado, do tudo nos conformes.
Do quarto ao fim do corredor, vinha o grito de sua filha. Seu choro desesperado não era tão forte quanto o grito das rachaduras que se formavam aos passos largos de Pedro. Com apenas uma idéia na cabeça, Pedro pega sua filha e vê sua casa desmanchar em suas costas. Pela janela do quarto, ele chega ao lado de fora, tendo somente o tempo necessário para ir ao chão verde de sua fazenda, olhar para frente e ver que a grama fina ondulava como água de maremoto. O espanto não o fez perceber o fim da sua casa.
A pequena filha de Pedro cessara o choro, olhava o verde mar de terra fazer um barulho seco de rocha que se quebra e cai, seus olhos vermelhos ainda não entendem como as nuvens podiam ser tão ariscas e rodarem tão estúpidas, seguindo para a frente, para os lados, como um pião de corda com a ponta torta, rodopiando como bailarina bêbada.
Pedro desperta do susto. Ao seu lado abre a Boca do Diabo, engolindo os concretos de uma antiga parede que outrora fora o seu lar. Com sua filha nos braços, segurada como se carrega uma saca de café, Pedro corre sem rumo. O chão sem estrutura fez com que a velocidade dos passos ficasse prejudicada e correr reto é correr sinuoso.


Calma, este é só o começo

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