sábado, 23 de fevereiro de 2002

Divagações

Loucarada. Saudações manicomiais.

Sinto-me em débito com este valoroso recinto. Gostaria de deitar aqui algumas palavras em sinal de meu amor e de minha fidelidade (epa! de onde saiu isso?).

Como muitos (todos?) de nossa geração, sou uma jovem perdida num mar de desejos vagos e insatisfeitos. Um deles é o desejo de escrever.

Escrever por que gosto ou por que me dizem que o faço bem? Não sei. Difícil delinear um prazer que não esteja de alguma forma ligada ao reconhecimento (questão bem representada em Uma Mente Brilhante, a que acabei de assistir). De qualquer maneira, a despeito de todas as minhas dúvidas e incertezas profissionais, existe uma constante: a convicção de que meu talento mais definido é a escrita.

Essa convicção não é suficiente para que eu me sente e escreva: sou um bicho que só escreve por encomenda. Todos os meus contos, ensaios, crônicas, poesias (ou talvez esta seja a única exceção) foram escritos para atender a demandas escolares, acadêmicas, exteriores a mim. Tenho preguiça de escrever. Minhas idéias insistem em permanecer no mundo das idéias.

Então me convidam para escrever num blog. "Que interessante!", penso eu, "será um estímulo para escrever diariamente". Quem sabe dali a um tempo escrever não teria se tornado algo mais natural, menos trabalhoso, mais atraente. E sabem o que aconteceu? O inverso.

Por (e para) escrever aqui, tenho me privado de tentar escrever de maneira mais sistemática, com vistas a objetivos definidos. Estou, por exemplo, escrevendo um roteiro de cinema (sob encomenda, é claro). Quantas e quantas vezes não liguei o computador para tentar criar alguma cena nova e acabei parando aqui, no Manicomius. A escrita solta, espontânea, descompromissada, é uma solução fácil, mas insatisfatória. Percebi que preciso direcionar minha força criativa e minha disciplina para a vida real. Bem, perceber não significa que já estou pondo em prática (vide o momento atual, em que deveria estar trabalhando no roteiro e continuo aqui, escrevendo).

Uma outra expectativa que eu tinha em relação ao blog era a de sublimação. Sou uma pessoa de pensamentos e emoções tão efervescentes que imaginei poder canalizá-los para uma atividade produtiva, a da escrita. Enganei-me. Passei uma semana (a do carnaval) quase sufocando com tudo o que eu sentia e achando que ao escrever sobre isso no blog me sentiria melhor. Consegui apenas que um infeliz sentisse pena de mim e me mandasse uma série de e-mails malcriados. Depois do carnaval, sabe o que fiz? Desencanei de blog, roteiro, amiga: escrevi tudo o que eu estava sentindo para a única pessoa a quem eu realmente gostaria de dizer aquilo. Mandei um e-mail para o meu ex-namorado. Sense of relief...

Finalmente, percebi que aos poucos tinha mais vontade de entrar no site da minha amiga Biba Blandy do que no nosso maluquício. E, depois de ter saído ontem com a Biba e a Thaís, senti vontade de entrar no Edifício Michelle (não tô lembrando do link) também. Refletindo sobre o assunto, encontrei um alento para esse nosso mundo pós-moderno virtual: ainda é mais gostoso ler um blog sobre a vida de alguém que você conhece na vida real do que alguém que permanece no plano das idéias. Que bom.

Tentarei resumir agora todos os meus pensamentos em uma conclusão (reflexo de uma opinião pessoal e subjetiva): escrever em um blog pode ser bom, mas não deve servir como fonte única de expressão artística, extravasamento psíquico ou relacionamento interpessoal. Em outras palavras, não estranhem se eu aparecer menos... estarei apenas investindo minhas energias em outras formas de escrita (e de viver).

Ah, só mais uma coisinha: já que é mais gostoso escrever para (e ler sobre) quem a gente conhece, que tal pôr em prática aquela idéia de promover um encontro entre os loucos daqui? Seria supimpa agregar rostos às vossas palavras...

Cordially yours,
Cris do Vale.

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