segunda-feira, 11 de fevereiro de 2002

Noite

É isso. Estou sozinha. Lista das pessoas com quem falei hoje: uma secretária eletrônica, uma caixa postal, meus pais (por telefone) e o vendedor de ingressos no cinema. Ah, também troquei uma palavrinha com o padeiro: "dois pãezinhos, por favor".
Engraçado como as coisas acabam não sendo como a gente queria. E, quando não são, como a nossa cabeça começa a criar armadilhas infames, cada vez mais difíceis de se detectar. Agora parece tão simples pegar o telefone e ligar. Simplesmente ouvir a voz. Saber que existe no mundo outra pessoa que também se sente só e, por um minuto, enganar a solidão.
Vira e mexe me distraio e esse pensamento me toma como o abraço de um urso gigante. Chego a ficar com o coração disparado, pressentindo a proximidade do perigo. Preciso ser muito cética, muito cínica, muito fria, muito lógica, muito firme para dizer a mim mesma: "Cristina, que idiotice... nem pense em fazer uma idiotice dessas!"
Então, fim da noite fui ao cinema. Foi bom. Fui ver o "Fabuloso destino de Amélie Poulin". Senti o quentinho bom no coração. Acho que a platéia também, porque teve gente que aplaudiu. Saímos do cinema com um sorriso no rosto.
Mas agora o sorriso já passou. O urso me abraça e quase me sufoca. Respiro fundo para não me perder na monstruosidade do meu próprio pensamento. E faço planos de dormir cedo e chegar mais rápido à segunda-feira. Porque, pior do que se sentir só, é se sentir só numa noite de domingo de carnaval.

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