quinta-feira, 14 de fevereiro de 2002

Mais dúvidas

Perdi um pouco a vontade de escrever no blog. Essa história do cara me escrever dizendo pra eu "me mancar", depois falando pra eu fazer "caderno em diário", depois dizendo que eu tinha que deixar a "comunidade da internet" discutir a minha vida comigo e finalmente anunciando que os meus problemas eram "maiores do que eu escrevia no blog" e que eu devia "conversar com alguém" foi um pouco excessiva. Além disso, me trouxe um montão de dúvidas: será que eu estou mesmo colhendo o que plantei? Que não tenho o direito de me sentir invadida por esses comentários depois de ter evadido a minha vida publicamente?

Conversei com um amigo sobre o assunto. Ele me disse que muita gente usa o blog como diário mesmo, exagerando no tom confessional e subjetivo, contando detalhes íntimos da sua vida. E que quem lê o blog escreve pro blogger como se fosse amigo íntimo. Talvez, por isso, o meu leitor tivesse expectativas de que isso fosse acontecer comigo e com ele. Pode ser.

Ele também disse que as pessoas interpretam a escrita de maneiras diversas. Que ele e a namorada outro dia leram um texto que ele achou engraçadíssimo, e ela, super pesado. Assim, o leitor também pode ter interpretado mal o tom do meu texto, achando que era um pedido de socorro real quando, na verdade, eram apenas reflexões sobre a vida partilhadas num ambiente coletivo.

O cara que me escreveu disse que não sabia por que eu tinha me sentido tão "sacaneada". Concordei que tinha exagerado na dose nas respostas que mandei pra ele. Acho que me empolguei tentando mandar uma resposta muito "uh! se fodeu" e acabei não olhando pra situação com um olhar antropológico, como deve fazer o escritor.

Por outro lado, achei os argumentos dele meio furados: imagina se alguém escreveria pro Goethe, por exemplo, e mandaria o jovem Werther "se mancar"! Ainda que seja pretensão me equiparar a Goethe, e ainda que um texto em um blog não seja exatamente equivalente a um livro, qualquer escritor tem a intenção de socializar a sua escrita. Qualquer escritor fica feliz com a manifestação do público. Mas nem por isso o escritor espera que o leitor vá se reportar a ele dando palpites sobre a sua vida ou sobre os seus personagens.

Enfim, são dúvidas que me assolam nesses dias. Quem quiser se manifestar a respeito, sinta-se a vontade.

Nenhum comentário: