sábado, 4 de agosto de 2001

Agora, sem interrupção

Bate o pé a primeira estaca. Não cai. Se o mundo virasse de cabeça para baixo, o momento é este. Segue as sirenes e o alarme em sua direção. Todos apontam para ele. Matador-de-porcos. Aquele que a muitos assusta agora está assustado. Sem fugas, ele aceita o golpe baixo. Sua mão armada não aceita a pressão do gatilho. Não atirarás. Reclama a consciência. Dois passos a frente. O retorno. Arma empunhada. Balas a espera. Cão e coldre adornados. Esquenta o sangue. Sua a pele. Bate a dualidade de um ser que não se conhece mais. Se o reflexo do desespero criasse formas diante a um espelho, este seria Matador-de-porcos. "Tome coragem, homem!" Homem? Nem mesmo ele reconhece-se mais. Nunca diria tal palavra. E agora o disse. Grite. Não o faça agora. E se o fizer. "Já o fiz". O que está feito, está feito. E agora? Sangra o pé que torcera-se na madeira posta ao chão. O lugar não incomoda a preposição. E se a troca? É o troco. Matador-de-porcos não sabe mais o que faz neste momento.

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