quarta-feira, 12 de setembro de 2001

A partir de hoje, o mundo será outro

Estou aqui na aula de Edição II, no laboratório de informática da PUC-SP e, claro, a aula de hoje é sobre o ataque aos EUA. Minha pauta, de 3 mil toques, foi sobre os suspeitos e, como tô mto atordoada com isso tudo (tenho uma tia que trabalha no WTC, mas que graças a Deus está bem), faço questão de colocar minha matéria aqui. Desde ontem de manhã estou com uma bola na garganta que tá foda. Uma puta angústia... Mas aí vai o texto:

A difícil arte de não culpar os palestinos
O povo, emotivo, pode criar um dos maiores bodes expiatórios da história

O mundo parou perplexo em frente às TVs. Chocada e emudecida de tristeza, a maioria só não foi absoluta por causa de alguns grupos palestinos, que comemoraram a catástrofe social, política, militar e econômica aos berros nas ruas, expondo suas crianças, felizes sem saber porquê, às câmeras que seriam instrumento para a mídia mundial.

Cenas repugnantes de uma felicidade atroz, que a alguns mais emotivos carimba sem volta os culpados pelo atentado: os árabes radicais. Pouco mais tarde, a CNN transmite com exclusividade para o mundo cenas de bombardeio em Kabul, capital do Afeganistão. Confusos, jornalistas não sabiam bem do que se tratava aquilo e, sem titubear, arriscaram palpitar que era uma contra-ofensiva americana. Não era. E não era porque os EUA estão em uma guerra sem inimigo, ou melhor, em uma guerra contra um inimigo sem face. As explosões em Kabul nada mais foram que manifestações locais de uma guerra civil iminente.

A fúria que se tem direcionado a palestinos é preocupante. É impossível não lembrar a ação terrorista ocorrida em Oklahoma City, que em 1996 fez 168 pessoas, entre as quais muitas crianças, vítimas da explosão de uma bomba. À época, a culpa foi atribuída pela opinião pública a grupos extremistas muçulmanos. Mais tarde, descobriu-se que o autor do ato era Timothy McVeigh, branco e americano.

Nenhuma hipótese pode ser descartada. Logo, ninguém pode servir de bode expiatório. Há que se descobrir por meio de fatos concretos qual é o verdadeiro inimigo, para que as "fortes retaliações" proferidas pelo presidente Bush sejam de fato justas e eficazes.

Logicamente, não se pode ignorar suspeitos fortes e, entre eles, o que desponta na desconfiança geral é o terrorista saudita Osama bin Laden. Bin Laden, há algumas semanas, ameaçou atacar os EUA de forma semelhante à ocorrida ontem. Se for realmente ocupado, a situação pode encrespar: os EUA pediram extradição do afegão para seu país, e o pedido foi negado pelo governo do Afeganistão. George W. Bush, então, declarou que o país seria responsabilizado e retaliado por qualquer ato terrorista praticado por bin Laden. Oficiais do Taleban, no entanto, negam envolvimento do saudita.

Grupos terroristas do Japão, da China, da Rússia e até dos EUA passaram pela cabeça de alguns em segundo plano. O discurso de Bush ontem, porém, trata com cautela o caso, sem inferir suspeitos. E está agindo corretamente, ao contrário de muitos americanos que se deixaram levar pelo impulso vingativo contra o que "parece ser" o inimigo.

Com razão, muitos árabes temem uma onda de preconceito sem precedentes no mundo todo. E mesmo que um grupo terrorista palestino seja descoberto autor dos ataques, a generalização tão corriqueira no senso-comum inevitavelmente marcará toda uma população que, inofensiva, terá que pagar pelos erros de radicais os quais igualmente condena. Aí sim, será feito do maior atentado terrorista nos EUA, um dos maiores bodes expiatórios da história.

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