domingo, 3 de março de 2002

Desmembranarás

O mundo piora a cada sentido!

vai-se a vida com o real desmentido.

a grandeza e a soberania agora sucumbindo

a tua eterna ingratidão!

se viesse me ver no momento em que estive pensando por nós

me veria rindo e despejando alegrias com apenas o sopro da lágrima

que se desmembra dos olhos e contagia os dentes

mas que agora se detona em espinhos.

Peço para ficar sozinho.

E se soubesse bem o verdadeiro significado de cada passo que dei

acho que agora, essas suas safadezas e impropérias

se vairão em desfigurações divinas

na dua agonia da figuração, do peso e o castramento do seu valor,

da crua tirania que se fará presente em teu cotidiano.

Saiba entender o crédulo valor do desgosto

dessa boca que uma vez lhe beijou de olhos fechados

e agora trinca os dentes por saber que existe.

Perceba,

que quando repeti desmineralizadamente a tua existência

que pulgi desrazões ficcionais por teu nome

que descrevi figuras de pulsação corporal

eu o fiz, porque eu ri

e agora me desencanto.

Forcei a goela para engolir os pulsos do coração

e segurar bem firme o peso das pupilas

que se desprendiam de sangue, suor e valores

antes julgados prioritários para mim.

Talvez tenha sonhado demais, cai de cabeça no mundo dos vivos,

fui golpeado no estômago, mas não perdi a respiração

eu somente perdi a minha alma.

e sua ignorância se fez tão racional

que os membros que perdi quando lhe amei por demais

que as formas que figuramos quando junto estávamos

que as belezas que a minha cabeça criou por crer demais na fé dos teus olhos,

cairam por demônios que antes eu pensava não existir

mas que seguravam os teus braços e brincavam de lhe tampar os olhos.

Penso bem,

só me merecem aqueles que em mim crêem,

que sabem enxergar aqui um tótem de alegria e um bom abraço

uma mão amiga e um irmão não-consaguíneo

mas que só não poderão ter o amor da minha carne.

Eu encarno

o puro figo que não secou para o natal

a fruta que não se estragou ao peso do tempo

o gosto da flor que lambe os beiços da abelha que lhe disseca as entranhas

o mel que de elixir seu ouro me banha.

Sou acima

de tudo que pesou por não me compreender

da dor à algúria que se destaca em perseguimento

de te ver ali, sem comigo estar.

Aprendeste?

Ainda talvez não tenha as palavras

pois daqui só lhe sobra olhares

que por cima do meu nariz terás por valor

que lhe acho cair melhor.

Corrôo.

Pois este sangue aqui ainda te tem vivo

mas talvez não me faça sentir alívio

mesmo que a carne se contorça em desvario.

Ponha-se em meu lugar e me desgrude da figura do irracional

é na verdade a única vontade que tenho de praticar

e lhe pertubar em agonias, o sono que nunca se aproxima.

Durma bem. E durma o sono dos anjos

já que, aqui, há a queimadura do inferno,

neste homem que esqueceu que nasceu homem

e seguiu a desracionalidade do carinho.

Agora eu sonho sozinho

ao saber que ali a minha frente há um amor que se faz possível

e que escondi por receio de que descobrisse

quando me pegasse sonhando em excesso,

com um futuro que achava que não ia desmembrar.

Destilarei? Não sei se quero,

prefiro o gosto do acalento do amigo

que agora desdenho no meu peito.

Perfilo o irreal gosto do respeito

mereces algo deste nível?

Ou mereces o encanto dos fechos das minhas sombrancelhas

Reajo forte ao golpe da rasteira, a dor que incendeia, a membrana que se discumpre, a raiva que fulgura

além da compreensão humana

entenda, criança, que as marcas que deixei na tua vida

se perdurarão até o desgosto lhe cair na alma

por perceber que o presente que te deram

foi perdido por entre tuas mãos

e as membranas gelatinosas que se formaram entre teus dedos

são as marcas das lágrimas em que nadarás futura e futuramente

como um peixe que não sabe mais o que é o doce gosto do puro oxigênio

diante a poluição em que mergulhou eternamente.

Peço que sejas feliz,

e que nunca mais encare o anzol que pus no lago ao lado do seu

neste lago onde a água ainda é boa para se beber.


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