quinta-feira, 25 de abril de 2002

O nu na ponta da língua

Talvez, pelo menos uma vez na vida, todos nós já passamos por este momento em que dizemos mais do que realmente devemos. E nos perdemos sem saber o porquê de estarmos falando em exagero descabido e falamos e falamos e falamos sem parar. Falamos porque queremos falar.

E a falácia não pára somente quando terminamos de mexer a boca, mas o olhos e o sentimento ainda continuam a mesclar rosto, gesto, corpo e afeto num único e sentido momento da necessidade de falar e falamos por não mais querer entender a si mesmo, mas nos mostramos muito mais do que sentimos no único momento de abrir a boca e fuzilar palavras e copos de signos que não mais nem mesmo nem menos nós mesmos entendemos o verdadeiro valor do que estamos a dizer. Tudo que antes estava encrostado nas paredes da garganta e que forçam o diafragma a caçar oxigênio e fôlego onde nem mesmo antes havia vida vinda de um toque qualquer, mesmo antes sendo amigo, agora puramente sensitivo, um instinto que pairava deitado e acordado a espera de se fazer vivo, pula no simples perdigoto que saltita feliz por ser expelido com vontade e com gosto da boa palavra que sai da ponta da minha língua. O gosto por mostrar e por mais que antes era mas e que agora é pura e simplesmente soma de mensagens embebidas de um sentimento, tal qual jus a vontade de me e te e nos dizer hiperbolicamente em toda a sinestesia que se figura e fulgura de hipérbatos e sincrasias que antes eu só pensava existir em mim agora por hora e não mais que adiante eu vejo muito bem escrito no sopro de lágrima que tenta fugir dos seus olhos quase fechados pela força de seu sorriso, juro que por mais que eu tente parar de lhe falar eu farei a jura que antes eu pensava só existir em filmes e em histórias de conto estranho e em gruas de sentimentos que nunca vi adiante a mim com pinturas da mais sincera cor, só pensei que fossem desenhos de um perdurar nunca antes entendido e conseguido ser visto por esses olhos aqui eternamente sem carinho.

Respiro.

E não mais que antes eu peço ar a todos que por mim tem algo a dizer, paro e fecho os olhos e sinto que o ar que sempre precisei, imbecilmente estava a minha frente e não mais que a minha frente está a verdadeira identidade da respiração pausada porém eclética de sentidos e voracidades. Onde agora o ontem passa a ser uma mistura de nunca com sempre, onde eu vejo que nada mais agora adiantará o palpite dito pelo cérebro ao peito desvairado de sangue e venenos na artéria, carótida tida por conseqüências de pútrefo martírio desnecessário por não antes saber que ali, diante a mim, estava o ó dois que sempre quis que viesse me consumir e me fazer fechar os olhos e deixar que por mais que o mundo nos faça lutar contra, me deixasse direta e instintivamente conduzir o preço da força da maré que choca com a pedra e que sabe que não será a areia molhada que vai me fazer parar de molhar e molhar e molhar e entregar ao menor bichinho desta terra úmida o gosto dessa lágrima que vejo em seus olhos ao me despir dessas carapuças masculinas e mostrar esse nu em que me entrego por completo a ti, doce figura que completa a minha vida e te diz fulminantemente sem deixar o ar intravenar os púlpitos do meu nariz que tudo que nunca imaginei sentir está agora bem aqui adiante ao meu caráter não somente como complemento de como vir a ser feliz ou feliz de como virá a ser o meu interno e descabido ser mas que por não mais que um minuto sequer quer viver sem você aqui grudado está a jugular a mostra de seu beijo e seu carinho e não mais junto a essas peças de algodão e polyester e lycra e não mais nada mais sequer, eu quero somente olhar e poder exclamar até eu poder dizer sem mais delongas e sem esvair de ar que o diafragma ininterruptamente instiranamente me faz pedir por contra ao que quero somente lhe dizer o que está a ponta da minha intimidade e da minha inteira vontade de lhe dizer e lhe mostrar e lhe contar tudo e tudo um pouco mais do que posso até mesmo ser capaz de dizer e de te fazer entender e de ti sei lá mais o quê posso gestuar com meus dedos frios e minhas mãos trêmulas. Juro por mais que posso pedir para o meu Senhor, que quero sim a felicidade que vejo estar traduzida sem mais outras perfeições conhecidas, no verdadeiro minuto do teu sorriso. Paro e julgo a minha felicidade e vejo que ela está por demais engrandecida e a deixo assim, posso também ser alguém tão feliz quanto vejo em você e quero não mais por esperar que me faça por favor compreender essa sua felicidade.

Ufa!

Só peço, caridosamente, minha Carla, que seja o meu respirar.

E não mais que adie jamais, acho que estou ficando além do estar apaixonado, e que desta fase, acho muito bem que já passei.

Esse seu namorado! Único e nu diante de ti, sem essas falsas roupas que masculinamente são nos postas. Quero lhe mostrar como realmente sou!

Márcio Calixto


Nenhum comentário: