sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

um minuto a mais

Sempre existe aquele momento de aurora e calor que fica marcado no corpo quando o Sol nasce. Sempre existirá aquela breve abertura no olhar no qual você vai encarar o sol e deixar que a luz forte entre por sua vista aluviosa e matinal, esperando somente o café ficar pronto.

Hora de despertar.

E enquanto a cama não é arrumada e som do galo não pára de encantar essa manhã orvalhada, pense em quanto realmente tudo vale a pena. Pense e respire. Somente por um minuto a mais. Puxe bem o ar. Sim. Puxe-o. É nesse momento que estarei contigo. Inundando o seu pulmão. Forçando o seu coração a dar conta de tanto oxigênio. Abrindo o seu peito para o rejuvenescimento de uma vida inteira. Respingando bolinhas de água em seus olhos.
Rindo.
E rindo bem.
Somente por saber que tenho uma foto sua comigo. E somente por ver nós três juntos. Rio. Cresce a enchente e mostro bem os dentes. Uma foto. Somos sempre.

E com a estupidez da tarde vem na fome da sombra. Diminui a sua constância e transforma manhã em calor estupefato. Há um minuto atrás, eu era manhã. E agora, queimado por esse Sol forte demais, eu sou esmagado nessa insensatez luminosa da tarde. O trabalho se ergue e se faz forte, correria para o seu fim. Mês vem, e esse valor desaparece. Cifras. Nunca contam. O que me resta, é poder ter sombra e ver a foto de nós três. Porém, tenho medo da noite. Essa que nos torce o pulso e nos faz perder a força. Eu tô com medo da noite. Não tenho sono mas tenho medo de que ela me tome na cama e me faça dormir demais. A ponto de ver que nada valeu a pena e segui o caminho mais árduo do esquecimento.

Durante a tarde, ao olhar pra baixo e deixar o sol me aniquilar. vi que bolinhas de água ainda estavam na grama. Procuravam e se destrinchavam, fundiam-se, um. Somente. Como sempre foram.

Para esse orvalho, não há noite. E durante a tarde, quando o sol as deixam nervosas, elas se fundem. E na noite elas se recriam. Transformam-se em mais. Riem ainda mais quando vêem que tudo que se seguiu a noite foi esperança, e esse medo da noite só tem quem está solitário.


Tenho saudades.

Liguei para Daiana e falamos pouco. Parecia que não tínhamos o que falar. A boca tremeu e o ar faltou. Os olhos envelheceram e vi noite.

Fiquei com medo. Medo de não me orvalhar e puverizar-me Encostei o queixo na mesa e rabisquei voltas. Passei o tempo e voltei para o trabalho. Dei uma aulinha comum.

Liguei para você. Mas seu telefone mostra também a raiva da tarde. Do excesso de trabalho. A caixa foi postal. E encostei o queixo na mesa em que estava. Olhei para longe. Solucei as raivas dos pensamentos tristes. E vi que o mundo é grande, redondo e que nos esconde nesse Sol todo.

Tenho vontade de retroceder alguns anos. E poder abraçar todos.

Queria poder usufruir desse minuto a mais no passado.

//Escrevi esse email para simone soria e daiana kelli, amigas irmãs e um pouco mais que isso. Inspiração//

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