segunda-feira, 2 de junho de 2003

O Capiroto e o Braseiro de Lembranças.

Tema: Pombos Dia 28 de maio de 2003
"The Day Before We Try"

O excesso de pensamento sempre nos leva a desistir da racionalidade e faz com que caiamos no bobo devaneio de acreditar que nossa mente tem poder para tudo. E é por isso que ao abrir o sorriso dubiamente bobo, este que transparece o quão longe estamos indo, damos a cara à tapa para todos os outros que por nós passam, nos encaram e nos deixam ainda mais bobos por terem invadido a privacidade do nosso pensamento.
- Cuidado! Quanto mais alto o vôo, mais alto o tombo.
- Foda-se.
Ontem. Não sei porque cargas d´água, sonhei que era o demônio. Não podia me ver como tal, mas tudo aquilo que era, desde o poder do meu vôo até aquilo que eu fazia, eu podia sentir que era o demônio. Lutei contra um tiranossauro alado e o venci, sem socos, sem chute, só olhares, rápidos, fulminantes, porém sem reflexo para a minha beleza, eu ainda não podia me ver. Voei baixo sobre a água, e não podia me ver.De perto de mim saíam os peixes, que arregalavam os olhos e os olhos refletiam algo. O espelho é um resto de luar que o Sol na sua pressa noturna, ainda continua iluminando. Eu era lindo. Magro e esbelto e cabeludo de olhos jabuticabais. Um bigode bem feito. Mergulhado naquilo. Eu. Parei em uma sala cheia de livros. Redenção. Pude ver que o esquivo homem de vermelho se chacoalhava e eu o dizia:
- Xerri Im, Xerri Om.
E um pouco de milho. Mefistófeles, meu filho. Meu filho. Um homem chamado Wolfgang pedia-me um conselho. Como pode ser tão bela a Morte! Pegar da lâmina à vontade de semear um corte e deixar o sangue crescer da vagem branca e aberta a brotar ferro vermelho e de ouro rubro para este alemão obcecado por um corte bem feito na artéria mais próxima. Disse-lhe poucas e boas. Tornou-se meu adepto, meu amigo, chorou-me conselhos nos fumos que absorvia e do vinho mais quente, assombrou a vida das lâminas que ele tinha no bolso mais próximo do coração. Escreveu-me boas palavras. Alguns, sobre suas palavras, vieram até mim em uma época de fim de Luz, minha mania de liberdade. Chorei furtos e flores e rosas de espinhos bem graciosos, uma boa gota de sangue é uma boa gota de sangue.
Banco da praça, e um pouco mais de milhos, os olhos lá, os dentes amarelos à mostra ainda mais.
Sei que bem quis. O escapulário em meu peito começou a queimar. Marcou o meu peito para um sempre e para sempre eu fiquei marcado com aquela cara de bobo quando a porra do milho acabou. Meus olhos abriram-se para o comum e tantos os outros desapareceram para tão longe que eu, boquiaberto, soube por outras fontes, o gosto do milho que eu servia.

- Papai, olha que o Pombo fez na boca do moço?
- Puta merrrda...
Eu também tive vontade de exclamar tantos dígrafos de erres, mas não podia. O milho tinha acabado e o Pombo, filho do demônio, disse-me um Judeu de cavanhaque ralo e mais fodido que trabalhador de fim de semana, reclamava mais milhos para o chão onde eu pisava. Ou então, seu Pai o tinha dito que havia um metido a besta bem abaixo dele:

- Blrruur Blrruur – e voavam os Pombos.
Odeio crítica dos outros, e os outros riam de mim.
- Obrigado pela realidade, Merda.


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